terça-feira, 29 de novembro de 2016

Carta do Desimpedidos


Hoje, um pouco de cada um de nós vai junto com a delegação da Chapecoense e dos jornalistas que estavam naquele avião. Como amantes do futebol, como profissionais dessa área tão gigante e cheia de paixão, como agentes da zueira e das mitagens dos pequenos clubes, uma parte do desimpedidos vai com eles. Como brasileiros, povo guerreiro que tem que matar um leão por dia pra sobreviver, que acredita até o fim, e de vez em quando, consegue chegar lá, perdemos um pouco da força. Como pessoas, choramos pensando nas famílias, nos amigos, nos sonhos interrompidos, nos choques e nos buracos que essa tragédia fez. A falta é mesmo irreparável.
A Chape não é um clube qualquer. Pouca idade, muito carisma, espírito lutador e uma série de conquistas dentro de campo que fizeram torcedores do Brasil inteiro a adotarem como segundo time. Além dos acessos desde a Série D e a histórica classificação para a final da Sulamericana, a Chape e sua vocação de arrebanhar fãs mostrou na prática, algo que todo torcedor sabe lá no fundo, mas que muitas vezes a loucura dos dias atuais não deixa emergir: não é só futebol! Não é só amor pelo seu time, não é só amor por esse jogo maluco. É muito mais do que isso. É sobre viver a vida intensamente, rir e chorar, gritar, dar soco no ar, abraçar um desconhecido, sentir todas as emoções do mundo dentro do mesmo peito, se solidarizar e respeitar o rival como um dos grandes motivos da sua própria existência. E quando eu digo respeitar, é zuar, brincar, tirar barato, mas jamais pensar em agredir, machucar e disseminar o ódio apenas porque o outro gosta de um time que não é o seu. E olha que curioso, isso se estende para todos os lados da vida, em tempos de uma intolerância medieval contra o que é diferente do seu.
A Chape mostrou que é possível sim unir todas as torcidas nesse mundo doido que a gente vive hoje. Muito antes da tragédia, da comoção, de fazer todos os clubes do Brasil usarem o escudo da Chape nos seus perfis, de ser campeã nos trend topics do Twitter, o carisma do maior Verdão do mundo juntou todo mundo em torno de uma ideia de união, que ao contrário do que muita gente pode pensar, não estava prestes a se realizar com o título internacional: o sonho de um futebol mais humano, mais alegre e menos violento já estava ali pra quem quisesse sonhar.
A gente aqui no desimpedidos compartilha desse ideal. A gente acredita no futebol como ferramenta de transformação pessoal e social. Tragédias como a que vimos hoje nos fazem parar pra repensar absolutamente tudo. A gente pensa nas pessoas que ama, nas bobeiras que fazem a gente perder a cabeça, no orgulho imbecil que muitas vezes nos afasta de pessoas queridas, na fragilidade da vida, pensa que tudo pode acabar, assim, num segundo, num sopro. E pode mesmo. Mas o que a gente faz aqui, o que a gente deixa nesse mundo, é o que é feito com amor. E isso a Chape fez. É isso que a Chape deixou.
Agora é hora de confortar os familiares e amigos das vítimas, proteger de qualquer babaquice que se poste ou se espalhe pela internet, e fazer pensamentos positivos. Ainda estamos absorvendo o golpe e vendo como vamos tocar os próximos dias. A vida vai continuar, o desimpedidos vai seguir seu ideal de zueira e leveza no futebol, a Chapecoense vai se reconstruir com a ajuda de todo mundo e vai continuar sendo o maior verdão do Brasil porque, como diz a letra do seu hino, “nas alegrias e nas horas mais difíceis, meu furacão, tu és sempre um vencedor”.

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